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Quem venceu no final de Breaking Bad
Contém SPOILER sobre o final.
Para todos que sempre defenderam Walter, o Team White, o final de Breaking Bad foi uma vitória. Explico: Walt não teve um final feliz, mas teve um final simpático e com direito a provar que, sim, existe um coração ali. E para nós, no caso eu, que sempre achamos suas escolhas completamente inaceitáveis, foi um pouco difícil aceitar esse retrato.
Morte não é castigo pra ninguém e, no caso de Walt, serviu como redenção: ele salvou Jesse, entregou o dinheiro para a família, entregou o corpo de Hank para Mary e matou os nazis. Walter White é quase um herói! Walt conseguiu o que sempre quis (apontei isso em outros posts): reconhecimento.
O momento em que Walt confessa para Skyler que fez tudo aquilo por ele, não pela família, também é de certa maneira simpática. A confissão nos prepara para aceitar que Walt é bom. A prova vem na cena seguinte, quando tio Jack tenta negociar sua vida com dinheiro e Walt simplesmente atira na cara dele. O fato é que todos os outros times perderam – Team Hank? Enterrado no deserto. Team Jesse? Livre, porém, não muito. Jesse acabou como o cara da canção final “I saddled up and away I did go,/ Riding alone in the dark.”
Bryan Cranston, em algumas entrevistas, não lembro qual, sempre defendeu a complexa personalidade de Walter White com uma justificativa do tipo “ele faz coisas ruins, mas é uma pessoa boa”. Osama Bin Laden também se achava um cara bom e por isso preciso discordar de Cranston.
Enfim, Breaking Bad é uma droga. Você começa consumindo pra se divertir, daí a necessidade de usar mais aumenta e de repente não se consegue mais viver sem. E agora, meu Deus? Agora, todo produtor vai pensar duas vezes antes de dispensar uma história com premissa fora dos padrões – e essa é uma vitória para todos nós =)
A AMC também venceu no final
Breaking Bad não será lembrada apenas como o melhor drama já feito na história da tv – não só em termos criativos, técnicos e pelas sucessivas quebras de clichê – mas pela audiência que a AMC teve no último episódio, transmitido domingo passado pela AMC (perdoem meu atraso para escrever o post). Foram 10.3 milhões de pessoas, entre 18 e 49 anos, assistindo o episódio final de acordo com o InsideTV.
A quarta temporada teve 1.9 milhões de telespectadores em frente a TV, 23% a mais do que na terceira temporada. Isso quer dizer que a audiência de Breaking Bad cresceu 442% da segunda temporada pra cá.
De acordo com o AdAge, a AMC garimpou $400,000 por 30 segundos de comercial no domingo – o mesmo que o American Idol cobra. Mas veja a diferença desses programas. American Idol é um hit para toda família. Breaking Bad é um clássico. E clássicos não desapontam tentando estender suas histórias por dinheiro (o oposto de Dexter).
seu texto está tão bom que deu vontade de assistir.
Sério, Cláudia, vc não gostou do fim dado a Walt/ heisenberg? Eu nunca fui team Walt (e tenho medo das pessoas que idolatram Heisenberg…) mas achei super coerente o destino dele. Se vc assistir o Piloto, há um spoiler enorrrrrme sobre o destino de Walt: o médico com mostarda no jaleco diz a ele que, mesmo com tratamento, ele viverá mais dois anos (até seu aniver de 52 anos).
E foi assim, mas vou te dizer que gostei do Gilligan não ter traído seu personagem transformando-o em uma madalena arrependida de última hora. Walt ou Mr. Lambert foi vil e detestável até a morte, não voltou a ABQ pra pedir desculpas a nenhum daqueles a quem ele fez tanto mal, Jesse e Skyler. Dizer a ela que fez porque gostou, por ele mesmo, totalmente sem remorso por tudo que ele destruiu, é prova do seu caráter egocêntrico. A única White que fez tudo pela família foi a Skyler (até dar pro chefe ela fez, mas pra tirar o perigoso marido de casa).
Walt usou sua arrogância e inteligência pra fazer o que queria, deixar o dinheiro para o Flynn (e não pra Skyler) e qdo foi à casa do tio Jack, ele queria mesmo era acabar com os nazis (nisso eu torci muuuuuuito por ele!) e tb com Jesse, para ele, um traidor e sócio do Jack que teve a ousadia de reproduzir sua baby blue e fazê-la “melhor do que nunca”, segundo Skinny Pete.
Só com terapia eu vou entender porque eu vibrei tanto qdo Jesse detonou o Todd. Era um assassinato, mas, poha, Todd não era um ser humano. Há mortes e mortes, então? Me permito ser hipócrita aqui e adooooooro que o Gilligan, com um programa de tv, consegue estimular essas reflexões. Mas um ponto pra BrBa.
Acho que talvez na cena final resida a única ação de compaixão de Walt em toda a série, salvando Jesse da morte e reconhecendo que ele foi um câncer para o Pinkman. Alguém pode dizer que ele salvou o jovem parceiro outras vezes, mas será que foi um ato altruísta, de amor ou um jeito de manter à sua eterna disposição o parceiro leal e pau pra toda obra? “Ele faz o que eu mando” foi o que Walt disse a Gus, ao invés de dizer que Jesse era um bom parceiro e quase um filho. Revendo a série agora, eu começo a perceber que nada foi por afeição ao Jesse simplesmente.
Não vi nenhum traço de redenção ao Walt no episódio, mas a última e definitiva forma de Vince Gilligan retratar seu demônio, como fez na série inteira. Juro que até hj não consegui entender como alguém pode vê-lo como um herói ou anti-heroi. Gilligan procurou não ceder a clichês e maniqueísmos e acho que foi bem. Mesmo amando Jesse, eu não gostaria que ele tivesse matado Walt, seria óbvio demais e Jesse, tão humano e sentimental, ainda reconhecia que aquela criatura foi o mais próximo de um pai e mentor que ele teve, embora Walt nunca tenha merecido essa devoção e nem Pinkman um “pai” como Mr. White.
Hank prendendo Walt é clichê demais, já vimos muito disso. Acho que a morte do policial foi a única saída para o personagem, tão comprometido com a face criminosa do cunhado, mesmo sem querer. Uma pena, mas talvez uma homenagem ao DEA, que o Gilligan disse ter ajudado muito a produção do show. Hank foi sempre um policial competente e incorruptível, pra representar bem a classe.
BrBA é tão legal que, mesmo com um final redondinho, ainda levanta discussões, como vc bem escreveu no seu texto. Impressionante que muita gente, Team Walt principalmente, festejou como uma “vitória” de Walt sobre todos, depois de tudo de horrível que ele fez. Para algumas dessas pessoas, Jesse vai ser sempre um rato, ingrato e chorão e Skyler, uma puta implicante e chata. Claro que existe muita hipocrisia em algumas decisões dos dois, mas alguns expectadores só conseguem enxergar que ambos só “atrapalharam” Walt. Moral flácida, mas como toda a arte bem feita, BrBa retrata o seu tempo (os comportamentos, o individualismo, o culto ao deus dinheiro e os tipos de heroísmo em moda). Nosso “espírito do tempo” ou “zeitgeist”, como dizem os alemães. Isso não é bom.
Já estou com saudades de BrBa e ler textos legais como o seu me fazem curtir mais ainda essa série.
Muito inteligente seu comentário. Eu tb estou com saudade. Gosto de tudo em Breaking Bad e cada referência pra mim é um presente. Sou mto grata por ter acompanhado esse show =*
O WW é um personagem fascinante, o que não quer dizer que quem o admira aprove 100% suas atitudes e decisões. Aliás ninguém 100% em nada, nem a Skyler… rs
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